Eu não estou neste mundo para viver as suas expectativas.
E você não está neste mundo para viver as minhas.
Você é você, e eu sou eu,
E, se por acaso, nós nos encontrarmos, será ótimo.
Se não, nada se pode fazer. [Pearls]

É importante este desprendimento...isso é liberdade, amor, verdade....
muito além da nossa compreensão, e das nossas possibilidades mortais...
É importante o ato de sabermos que só estamos junto de algo
ou de alguém por que de fato queremos estar...
É importante saber que somos livres para ir e vir...

sábado, 13 de março de 2010

A massacrante felicidade dos outros

Ao amadurecer, descobrimos que a grama do vizinho
não é mais verde coisíssima nenhuma...
Estamos todos no mesmo barco.
Há no ar um certo queixume sem razões muito claras.

Converso com mulheres que estão entre os 40 e 50 anos,
todas com profissão, marido, filhos, saúde e ainda assim
elas trazem dentro delas um não-sei-o-quê perturbador,
algo que as incomoda, mesmo estando tudo bem.
De onde vem isso?

Anos atrás, a cantora Marina Lima compôs com o seu irmão,
o poeta Antonio Cícero, uma música que dizia:
"Eu espero/ acontecimentos/ só que quando anoitece/

é festa no outro apartamento".
Passei minha adolescência com esta sensação:

a de que algo muito animado estava acontecendo
em algum lugar para o qual eu não tinha convite.
É uma das características da juventude: considerar-se
deslocado e impedido de ser feliz como os outros são -
ou aparentam ser.
Só que chega uma hora em que é preciso deixar de

ficar tão ligada na grama do vizinho.
As festas em outros apartamentos são fruto da nossa
imaginação, que é infectada por falsos holofotes,
falsos sorrisos e falsas notícias
Os notáveis alardeiam muito suas vitórias, mas falam
pouco das suas angústias, revelam pouco suas aflições,
não dão bandeira das suas fraquezas, então fica parecendo
que todos estão comemorando grandes paixões e fortunas,
quando na verdade a festa lá fora não está tão animada
assim.
Ao amadurecer, descobrimos que a grama do vizinho

não é mais verde coisíssima nenhuma.
Estamos todos no mesmo barco, com motivos pra dançar

pela sala e também motivos pra se refugiar no escuro,
alternadamente.
Só que os motivos pra se refugiar no escuro

raramente são divulgados.
Pra consumo externo, todos são belos, sexy’s, lúcidos,
íntegros, ricos,sedutores.
"Nunca conheci quem tivesse levado porrada; todos os

meus conhecidos têm sido campeões em tudo".
Fernando Pessoa também já se sentiu abafado pela
perfeição alheia, e olha que na época em que ele escreveu
estes versos não havia esta overdose de revistas
que há hoje, vendendo um mundo de faz-de-conta.
Nesta era de exaltação de celebridades - reais e inventadas
- fica difícil mesmo achar que a vida da gente tem graça.
Mas tem.
Paz interior, amigos leais, nossas músicas, livros, fantasias,

desilusões e recomeços, tudo isso vale ser incluído
na nossa biografia.
Ou será que é tão divertido passar dois dias na Ilha de Caras
fotografando junto a todos os produtos dos patrocinadores?
Compensa passar a vida comendo alface para ter o corpo
que
a profissão de modelo exige?
Será tão gratificante ter um paparazzo na sua cola

cada vez que você sai de casa?
Estarão mesmo todos realizando um milhão de coisas

interessantes enquanto só você está sentada
no sofá pintando as unhas do pé?...
Favor não confundir uma vida sensacional

com uma vida sensacionalista.
As melhores festas acontecem

dentro do nosso próprio apartamento.

Martha Medeiros

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