Eu não estou neste mundo para viver as suas expectativas.
E você não está neste mundo para viver as minhas.
Você é você, e eu sou eu,
E, se por acaso, nós nos encontrarmos, será ótimo.
Se não, nada se pode fazer. [Pearls]

É importante este desprendimento...isso é liberdade, amor, verdade....
muito além da nossa compreensão, e das nossas possibilidades mortais...
É importante o ato de sabermos que só estamos junto de algo
ou de alguém por que de fato queremos estar...
É importante saber que somos livres para ir e vir...

domingo, 18 de abril de 2010

A atração às vezes pode levar ao amor de algum predador


O dia tinha um céu muito azul, sem uma nuvem sequer.
O vento, era cortante como uma lâmina.
Um passarinho, talvez um pardal, estava a ciscar feliz
de um lado para o outro: ele saltitava, revoava
no mesmo lugar, parecia dançar sobre a grama alta
do jardim, bicando de lá e de cá, numa curiosa coreografia,
própria dos pequenos pássaros.
De repente no imenso silêncio que se fazia e
na imobilidade da cena, algo de errado:
uma paradeira estranha, um suspense, um terrível aviso
- a ave se mantinha completamente parada
sobre a grama verde.
Um enorme gato, de longos pelos negros, macios e
brilhantes, com os olhos imensos, verdes como a grama,
as pupilas finas e pontiagudas como suas próprias unhas.
Mas parecia uma longelínea estátua egípcia do que
um animal de verdade.
O passarinho o fitava bem nos olhos, duas esmeraldas
perdidas num céu noturno, sem estrelas.
A ave parecia hipnotizada e ia se aproximando

do felino aos poucos, perigosamente, numa estranha e
indefinível atração, como que capturada por aqueles olhos,
por aqueles pelos brilhando ao sol.
Nenhum dos dois se mexia.
O vento parou de soprar, as folhas não mais balançavam.
Só as penas da ave pareciam tremelicar de êxtase, de
resposta positiva ao apelo invisível do animal à sua frente.
De repente, sem aviso, o gato deu um rápido salto e

abocanhou o passarinho.
Apenas um pulo certeiro e a ave se abandonou
às suas unhas, sem nenhuma tentativa de fuga,
sem dar um pio ou sequer experimentar bater as asas.
Simplesmente se deixou ir, sem reação ou defesa,
como se estivesse esperando por isso,
desde o início do encontro.
Sendo arrastado pelo bichano, parecia estar
cumprindo seu destino.
Então, eles desapareceram, e a natureza se recompôs,
com seus sons e suas cores.
A atração, o amor que alguém nos desperta,
pode se expressar de maneira tão absoluta,
tão absurda, que acabamos por
nos comportar como o passarinho da cena.
São sentimentos incontroláveis que,
tomando conta das nossas ações,
fazem com que a noção de perigo desapareça,
e nos entregamos felizes...

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