Eu não estou neste mundo para viver as suas expectativas.
E você não está neste mundo para viver as minhas.
Você é você, e eu sou eu,
E, se por acaso, nós nos encontrarmos, será ótimo.
Se não, nada se pode fazer. [Pearls]

É importante este desprendimento...isso é liberdade, amor, verdade....
muito além da nossa compreensão, e das nossas possibilidades mortais...
É importante o ato de sabermos que só estamos junto de algo
ou de alguém por que de fato queremos estar...
É importante saber que somos livres para ir e vir...

terça-feira, 3 de maio de 2011

Saraha e a arqueira



A mente é tão astuta que pode ocultar-se sob as vestes de seu próprio oposto. A indulgência pode se tornar asceticismo, o materialismo pode se tornar espiritualista e algo desse mundo pode se tornar algo do outro mundo. mas a mente é a mente - quer você seja a favor do mundo ou contra o mundo você permanece enjaulado na mente. A favor ou contra, ambos são parte da mente. Quando a mente desaparece, ela desaparece em uma perceptividade sem escolhas. Quando você pára de escolher, quando você não é nem a favor nem contra, isso é parar no meio. Uma escolha leva à esquerda, um extremo. A outra leva à direita, que é o outro extremo. Se você não escolher, ficará exatamente no meio. Isso é relaxamento, isso é descanso. Você não faz mais escolhas, não tem obsessões, e nesse estado de consciência, sem escolhas nem obsessões, surge uma inteligência que estava adormecida no mais profundo de seu ser. Você se torna uma luz em si mesmo.


Sarasa, o fundador do tantra, era filho de um brâmane muito culto, que pertencia à corte do rei Mahapala. O rei estava disposto a dar em casamento sua própria filha para Saraha, mas ele desejava renunciar a tudo, pois queria tornar-se um sannyasin. O rei tentou persuadi-lo - Saraha era um jovem tão belo e inteligente. Mas ele foi persistente e tiveram que lhe conceder a permissão, então Saraha tornou-se discípulo de Sri Kirti. A primeira coisa que Sri Kirti lhe disse foi: "Esqueça todos os seus Vedas e tudo que você aprendeu, todas essas coisas sem sentido." Era muito difícil, mas ele estava disposto a arriscar tudo. Os anos se passaram e, aos poucos, ele apagou tudo aquilo que sabia. Tornou-se um grande meditador. Um dia, enquanto Saraha meditava, subitamente teve uma visão: havia uma mulher no mercado que iria se tornar sua verdadeira mestre. Ele foi até o mercado. Viu a mulher, uma jovem, muito vivaz, radiante e cheia de vida, cortando a haste de uma flecha, sem olhar para a esquerda nem para a direita, completamente concentrada em fazer a flecha. Ele imediatamente sentiu algo extraordinário na presença dessa moça, algo que ele nunca antes havia encontrado. Algo tão fresco e algo que vinha da própria fonte. Quando a flecha ficou pronta, a mulher fechou um dos olhos, mantendo o outro aberto, e ficou na postura de arqueiro, mirando um alvo invisível.E algo ocorreu, algo como uma comunhão. Saraha nunca havia sentido algo assim antes. Naquele momento, o significado espiritual do que ela estava fazendo tornou-se claro para ele. Não olhava nem para a esquerda nem para a direita, olhava apenas para o centro.Pela primeira vez ele entendeu o que Buda quer dizer com estar no meio: evitar o eixo. Você pode mover-se da esquerda para a direita, mas será como um pêndulo em movimento. Estar no meio significa que o pêndulo permanece ali, nem para a esquerda, nem para a direita. Então o relógio pára, o mundo pára. Não há mais tempo... então há o estado do não-tempo.Ele ouviu Sri Kirti falar sobre isso tantas vezes, havia lido a respeito, havia ponderado, contemplado o assunto. Havia até mesmo discutido com outros a respeito, dizendo que estar no meio era a coisa certa. Pela primeira vez ele viu isso em ação: a mulher não estava olhando para a direita nem para a esquerda... apenas olhando para o meio, focada no meio.O meio é o ponto a partir do qual a transcendência acontece. Pense sobre isso, contemple o assunto, veja isso em ação na vida.

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